2º Encontro da Rede de Escolas Públicas Municipais pela Inclusão: roda de conversa com o psicólogo Alexandre Coimbra Amaral – escola, família e a importância da conexão humana

Em 17/11, tivemos nosso segundo encontro virtual com o grupo de educadores participantes do Projeto da Rede de Escolas Públicas Municipais pela Inclusão. Desta vez, pudemos contar com uma participação mais que especial do psicólogo, palestrante e escritor: Alexandre Coimbra Amaral (também padrinho do Instituto ComViver). Alexandre abriu um espaço para conversar com o grupo sobre os desafios da relação família e escola na pandemia, deixando claro logo de início que não há como falar em criação de estratégias e enfrentamento dos desafios sem antes permitir que haja um momento de esvaziamento e descompressão das várias angústias que nos tocam nesse período de tanta turbulência, afinal, neste ano, família e escola se encontram no mesmo barco, em alto-mar, diante de ondas arrebatadoras. 

Alexandre trouxe a importância de reconhecer o grande esforço que os educadores vêm fazendo e quão difícil é a sensação de que, por mais que tentemos, a equação parece não fechar. Ressaltou que a educação sempre foi 3D, presencial, caracterizada por um mundo pulsante, que sorri, chora, corre, toca. Sendo assim, a passagem para as telas já é um luto com o qual educadores e estudantes precisam lidar. Ele percebe que no mundo online as pessoas estão cansadas de ter que ligar câmera, testar áudio. Os professores estão falando ou postando atividades e os alunos estão com a câmera desligada ou simplesmente não acessam as plataformas. O palestrante acredita que quase nunca isso significa que não estejam gostando, mas que detestam que esse seja o único jeito possível de estar na vida: “Para eles é chato porque é diferente do que estão acostumados; as crianças estão sentindo falta do cheiro, do abraço, até da transgressão de falar com o colega do lado enquanto o professor fala. Isso era saudável. São as pequenas interações que fazem falta”. 

Após essa fala inicial do convidado houve um momento extremamente rico de troca entre os participantes. Quem quis pôde falar de como tem sido sua experiência e trazer reflexões e questões para serem contempladas em conjunto. Ao adentrarmos os novos desafios que este ano apresentou para a relação entre família e escola, Alexandre trouxe algumas contribuições valiosas. Nos disse acerca da importância de ressignificar o que é conteúdo, entendendo que todos estamos aprendendo o tempo todo em qualquer lugar e que poder valorizar os aprendizados não-curriculares vivenciados ao longo deste ano é fundamental. Acima de tudo, enfatizou que não há outro caminho para construir essa relação que não o diálogo, entendendo que, acima de tudo, o que está em jogo é a tarefa de escutar verdadeiramente o outro, mas sem deixar de nos escutarmos também.

Ao pensar sobre como conversamos com os pais, Alexandre ressaltou a importância do brincar. Reconhece que às vezes os pais estão tão perdidos em suas próprias dores e busca pela sobrevivência básica que não passa na cabeça de que brincar pode ser uma salvação para o dia, mas poder convidá-los para essa interação e instigá-los a brincar junto com seus filhos pode ser transformador. Segundo Alexandre, muitas vezes a conversa que salva é a que olha para as frestas de porta, que enxerga as pequenas coisas que ainda existem e fazem os olhos brilharem, apesar do sofrimento que possa imperar nesse momento.

Por fim, abordamos o grande desafio que os educadores vivem ao se depararem com o vazio na busca pelas famílias, quando insistem em contatos, mas não obtêm respostas. Alexandre trouxe algumas situações nas quais o envio de cartas puderam abrir caminhos para o diálogo, pois ajudaram a transmitir aquilo que, muitas vezes, as mensagens virtuais não conseguem dizer. Ressaltou que a comunicação virtual muitas vezes gera mal entendidos, pois nos impedem de perceber o impacto de nossa fala no outro, além de serem bastante impulsivas (áudios de whatsapp por exemplo) representando apenas a emoção daquele instante. O palestrante ainda enfatizou que, quando famílias projetam na escola a responsabilidade por suas dores, acusando os educadores de não darem conta das necessidades de seus filhos, o que melhor podemos fazer é oferecer nossa humanidade. Que os educadores possam se autorizar a reconhecer o sofrimento do outro e o fato de que existem aspectos a serem melhorados no trabalho, mas sem deixar de legitimar suas próprias dores; que possam reconhecer que algumas falas de famílias são difíceis de escutar e machucam porque eles também são profissionais cujos filhos estão em casa sem ir para a escola, também estão desgastados, sem tempo, com medo. Poder lembrar as famílias que os profissionais da escola também são pessoas e não cargos é o caminho, segundo Alexandre, para que possamos ofertar a única saída que ele vê para esse momento: a conexão humana.

Com esta impactante mensagem, reforçada pelos depoimentos dos participantes acerca desta realidade, encerramos o encontro: tocados, transformados e conectados.

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