A EMEI Carlos Laet é uma escola de educação infantil, pertencente à Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, com cerca de 40 anos de existência. Ela está localizada na região do Campo Limpo e nesse relato contaremos um pouco, através do olhar da coordenadora Ana Paula, como eles pensaram um trabalho inclusivo ao longo da pandemia.
Uma das primeiras reflexões que a coordenadora Ana Paula compartilha com a Rede é que, apesar dela trabalhar nessa função há mais de dez anos, nunca imaginou que aprenderia tanta coisa em tão pouco tempo. Ela nos relata que um dos grandes desafios foi lidar com tantas incertezas e angústias, mas que manter o vínculo entre as crianças e a escola foi o desafio que mais precisou de uma rede fortalecida de mulheres (já que em sua unidade são só mulheres trabalhando) para construir juntas novas possibilidades de trabalho. Essa rede de mulheres, principalmente através da formação e do registro das professoras, possibilitaram que o trabalho inclusivo acontecesse e nesse relato contaremos um pouquinho um exemplo de como isso se deu na EMEI Carlos Laet.
A escola tem sala com recursos multifuncionais, uma das únicas da região. na qual atende, no contraturno, crianças com múltiplas deficiências. Durante a pandemia a mediação com as famílias dessas crianças precisou se fortalecer para que as propostas pudessem ser trabalhadas em casa.
Um grande desafio do ano foi o acesso das crianças nas diversas plataformas (Classroom, WhatsApp, Facebook…). A equipe pensou em como diversificar as atividades para incluir a maior quantidade de crianças e elaborou diversas estratégias para que as crianças em situação de inclusão pudessem aproveitar ao máximo as propostas oferecidas. Uma das ideias pensadas pela equipe, principalmente pela Andrea, professora da sala de recursos em conjunto com a coordenadora, foi a construção de sacolas personalizadas.
Durante a pandemia, a professora fez chamadas semanais para todas as crianças em situação de inclusão e ela percebeu que elas precisavam de alguns materiais na mão das crianças como suporte para as atividades pensadas. Antes de preparar as sacolas, ela proporcionou, por exemplo, atividades diferenciadas em áudio e vídeo e as crianças respondiam a essas atividades cada um à sua maneira. Mas a professora sentiu falta de um acesso a essas crianças de outra forma, sentia que os recursos não precisavam se limitar às propostas digitais, mesmo em um momento tão delicado. A partir disso, veio a ideia de fazer as sacolas personalizadas pensando em cada criança e o que era necessário ser trabalhado com cada uma delas. Assim, a equipe organizou em seus planejamentos o que era necessário fazer para que essa ideia se concretizasse.
Em uma das sacolas, por exemplo, a professora fez cópias de músicas que uma criança, com o diagnóstico de autismo, gostava para que, a partir dessas músicas, elas trabalhassem alguns objetivos pedagógicos. Outro exemplo foi a preparação de uma rotina feita em uma lousa pequena, enviada também na sacola, para a família construir, juntamente com a criança, a noção de temporalidade trazendo organização e contorno. Esses exemplos foram pensados pela professora Andrea juntamente com a Ana Paula a partir dos desafios encontrados até então e como elas poderiam, enquanto professora de sala de recursos e coordenadora, atender a essas crianças.
Diante de tantos desafios que a situação pandêmica colocou às escolas e às relações, o retorno de algumas famílias foi essencial para que a equipe pudesse acreditar que ainda era possível fazer um trabalho sólido, consistente e cheio de sentido. Os pais de algumas dessas crianças se emocionaram profundamente depois que receberam as sacolinhas por entenderem que a escola tinha um conhecimento de seu filho, continuando um vínculo essencial para que o trabalho pedagógico seja efetivo, mas também, por ter um apoio em casa para os desafios educacionais.
Alguns sentiram muita dificuldade na organização das rotinas, mas pensar na rotina de casa incluindo as atividades propostas pela escola, ou uma leitura por exemplo, trouxe movimentação e vida para algumas dessas crianças. Outras famílias não conseguiram buscar a sacola, evidenciando um grande desafio no acesso às propostas. No entanto, dos que conseguiram pegar o material, a escola recebeu retornos positivos que sustentaram a possibilidade de continuação. Uma mãe, por exemplo, que fotografou a rotina colada na parede, outra mãe que enviou um áudio de WhatsApp da criança respondendo a uma música gravada pela professora .
Todo esse trabalho só pôde ser realizado com o grande envolvimento da equipe da Escola Laet e principalmente da Andrea, professora da sala de recurso, e da Ana Paula, coordenadora. Ana diz que sabe que não atingiram 100% das crianças e mesmo as que pegaram o material, não conseguiram dar continuidade em alguns trabalhos mas que mesmo assim, a intenção foi muito boa. A intencionalidade do trabalho fez a diferença e conduziu a um envolvimento da equipe de mulheres para que o projeto inclusivo e as atividades propostas fossem envolventes e interessantes mostrando ser possível, em meio a tantos desafios que a pandemia nos proporcionou, fazer um trabalho inspirador e potente.
Ana Paula Lopes do Prado Pinheiro