Érica Aparecida Barbosa Gomes Figueiredo é Coordenadora Pedagógica de Fundamental II, na EMEF Professor Alice Meirelles Reis, pertencente à Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Sua atuação deu-se por mais mais tempo como professora na rede pública e também na rede privada. O relato mostra a dificuldade não só relativas aos desafios das práticas inclusivas, mas também à inclusão social e vulnerabilidade social. Neste relato é possível refletir sobre a forma como é visto cada aluno e a possibilidade em criar redes de apoio para incluir os alunos que se apresentam em situação de inclusão e também em situação de vulnerabilidade social.
Érica traz alguns comentários sobre as práticas ao longo do ano passado e seus desafios.
“Este ano, se formos fazer um balanço, a gente mais acertou do que errou, acreditamos e arrumamos um jeito pra fazer as coisas acontecerem. Mediante tudo que aconteceu, tanto as visitas das auxiliares de vida escolar às famílias, quanto os professores procurarem em como construir conosco, conseguimos muitos agradecimentos dos alunos e famílias.”
“O que a gente fez o ano todo foi inclusão, inclusão digital, todo tipo de inclusão. Oferecer um alimento, a escuta, o que estava no nosso alcance e o que estava fora do nosso alcance.”
“Vou compartilhar o caso de um aluno deficiente físico. Em alguns momentos, o aluno apresentou-se na escola, precisando de atenção na colocação e uso das próteses e cadeira de rodas. Tentávamos contato com a família, mas não conseguimos retorno. Não sabemos o que acontece nas casas dos nossos alunos, hoje me sinto mais aliviada. Antes tínhamos relatórios como forma de comunicação entre família e escola, hoje temos outra visão do aluno, acompanhamos de outra forma, sabemos o que acontece dentro de diversas casas.”
“As auxiliares de vida escolar estavam visitando alguns alunos, encontraram o endereço deste aluno em específico, errado, talvez por vergonha da
de onde moravam. A AVE relatou a visita, a mãe não deixou ver a criança, e percebi por este relato que a mãe estava passando por um sofrimento psicológico muito grande, não conseguindo dar a atenção necessária ao nosso aluno. Fui atrás da UBS e perguntei à enfermeira se as agentes de saúde poderiam ajudar essa família.”
“Passei o caso, não foi no tempo que queremos, essa enfermeira infelizmente pegou covid, passou pra outra enfermeira que não levou adiante, então liguei à assistente social que quis abraçar a causa. Ainda não tenho o relato da visita, mas espero, em breve, ter mais notícias. Precisamos acompanhar a rede de apoio.”
Diante deste relato, Érica nos remete à importância de um sistema de apoio e sua relevância para permitir que os alunos estejam em condições mínimas para seguirem seu percurso escolar.
“Precisamos valorizar a rede de apoio. muitas vezes não conseguimos construir a rede de apoio justamente por causa da demanda da escola. Ficamos presos em relatórios, parte burocrática e esta construção fica para segundo plano.”
“Quando a gente fala de saúde a gente fala do psicológico, do social e do fisiológico. Se os três não estiverem em harmonia não tem saúde e condição possível para o aprendizado.”
Com este relato e reflexões, Érica mostra o quanto este período revelou aspectos antes ocultos, frente ao dia a dia escolar. A inclusão não está somente no fazer e planejar a prática pedagógica, mas também em dar condições para que todos, em condição de equidade, consigam aproveitar sua capacidade de aprender.
Relato por Érica Aparecida Barbosa Gomes Figueiredo